Uma frase de um professor de ciências políticas em uma aula de um curso que eu fazia sobre liderança no Insper, no cada vez mais distante ano de 2014, ressoa na minha mente até hoje. O Brasil vivia os impactos das manifestações de junho de 2013, e esse professor dizia que nosso país, desde 1.500, vive asfixiado em suas infindáveis crises políticas e econômicas, mas sempre, em todos esses momentos, surgia uma figura de liderança capaz de mostrar um bom caminho, mobilizar pessoas e trabalhar por uma solução para a nação. A tese que esse professor defendia é a de que nossa maior crise, naquela época, não era econômica ou política, mas sim de lideranças, na qual você não encontra uma pessoa capaz de apontar uma boa visão de futuro que faz com que as pessoas se mobilizem para construí-la.
Em 2020 vejo um cenário ainda muito parecido. Um país em ebulição e nenhuma liderança capaz de ir em direção à sociedade e mobilizá-la para um bom caminho. Vemos líderes de pequenos feudos e pequenas causas, que puxam cada um para o seu lado o fio da razão, com baixíssima capacidade de diálogo e agregação. É uma relação desgastante e danosa para o país, na qual o interesse global fica a margem dos interesses desses pequenos grupos com seus pequenos líderes.
Em um Brasil Novo – mais simples para empreender e melhor para se viver – tão discutido, almejado e trabalhado, é preciso romper com essa estrutura de exercício de poder, e nada melhor do que a máxima expressão simbólica da democracia para que uma nova tentativa nessa direção seja dada pelo povo brasileiro. As eleições se avizinham e essa é sempre a melhor oportunidade (e única no jogo democrático) de legitimar as lideranças populares representativas. Legitimar lideranças nunca é tarefa fácil, seja para prefeito de uma cidade, capitão de time de futebol de várzea ou síndico de um pequeno condomínio. É preciso que esse líder aponte uma visão de futuro e que os liderados o reconheçam como representante dessa visão. Em um país fragmentado ideologicamente como o nosso, em que líderes surgem e caem em descrédito a um volume e velocidade assustadoramente alta, a tarefa é ainda mais difícil, mas existem algumas premissas as quais manter a atenção podem facilitar essa legitimação.
Explico: o Brasil Novo deve ser construído de baixo para cima, partindo das ruas, bairros, até o âmbito da cidade, onde a vida acontece. A premissa básica, portanto, é buscar lideranças que entendam isso, que sejam próximas dos eleitores, que antes de almejar a derrubada do capitalismo ou do comunismo, da família tradicional ou da libertinagem, se preocupe com a vida no bairro, se o empreender está sendo dificultado de alguma forma ou até se as relações entre vizinhos se desenvolve de forma harmônica. Legitime uma liderança que se expõe, que discute os problemas, que tenha o papo reto e que não se esconda atrás de hordas de assessores. E por fim, busque um líder que não se importe em ser confrontado, que se submeta ao controle social, e não aja como se o povo fosse uma ameaça para seus planos futuros.
Acredito fortemente que não há um caminho para o nosso país que não seja esse, formado pela simplicidade das ruas e dos homens, que buscam, dia a dia, uma vida melhor para todos. Lute por isso nessas eleições com o seu voto.
*Paulo Jelihovschi é diretor de transformação na Abrasel